segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

um tanto de gente

Conceição do Mato Dentro - MG, 2010 foto: Gigi

Tenho medo de quem usa muita roupa
De gente que cobre o pés, as pernas, o peito e o pescoço
De gente que sai prevenida, com remédio pra dor de cabeça, guarda-chuva e para raio
Com a bolsa do tamanho de seus problemas
Gente que não sabe tomar chuva de verão
Nem esperar a primeira estrela aparecer
Gente muda de bom-dias ensolarados e de convites divertidos
Que desconhece o próprio corpo e lhe proíbe as comidas favoritas
Que não sabe usar perfumes depois do banho, nem levantar os pés quando chega do trabalho

Tenho medo de gente que tenta ser normal (porque normal não existe)
Que tenta fazer tudo certinho
Pra impressionar a mãe, o vizinho, o padre e o casamento feliz
E um dia descobre que ficou velho

Tenho medo de gente que tem medo de amar
De gente que não dança, que não se abraça quando tá contente
Gente sem contato humano, sem conhecimento humano
No dia em que aprendermos que o outro é tão igual
Seremos menos egoístas com nossos sentimentos iguais.

Tenho medo de quem só se casa uma vez
Bom seria casar uma vez por ano, uma vez por mês
Ainda que com a mesma pessoa, todos os dias.
Uma lua-de-mel não programada
Uma viagem do tapete ao sofá à cama e, de novo, ao tapete.

Tenho medo de gente que tem copos para visita
Que não bebe na taça mais linda todos os dias
Que deixa a toalha de renda mofar na gaveta esperando o natal
Que espera a tragedia pra homenagear
E o tempo passar pra arrepender.

Tenho medo de quem ri muito e de quem ri pouco
Medo de olho gordo e pessoas pesadas
Medo de conversa de elevador
E de conversa pra boi dormir

Posso ser uma por dia
Duas por dia
Ou tudo que sou em uma noite só
Se no dia seguinte eu puder dormir até o sol se por
Posso me equilibrar em muros e meio frios
Trepar em árvores e mergulhar de cabeça
Posso pensar até dormir ou não dormir de tanto pensar
Amar loucamente, casar e separar num único olhar
Dormir de meias, dançar na frente do espelho músicas imaginárias
Posso ouvir, ouvir, ouvir, o que se fala, o que se canta e o que se cala
Ser cúmplice numa torta de morango ou numa viagem sem destino
Posso andar em bando ou em banda
Sozinha ou comigo mesma

E quando eu tiver medo, eu posso correr.

(desconheço a fonte, mas a água é limpa.)

Um comentário:

  1. Meu Deus! Que tanto de coisa deliciosa nesse blog! Arrasando, Tasoca! E aquele seu comentário no post da Elisa? Pôra meu! Muito obrigada!

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