quinta-feira, 21 de julho de 2011

mais sobre pássaros

mario quintana
é então que por chamar assim, não era pra estar.
é então que se também é contigo vamos fazer uma grande roda.
abra a janela. é pra deixar circular.

é esse tal passado que assalta, que de tanto falar
dá sonho tão real que parece bicho vivo.

desata, desenlaça, desenreza.

sábado, 16 de julho de 2011

é pra comemorar?!

15 de Julho. Dia dos Homens no Brasil, dizem eles.

ante-ontem, homem é agredido em Blumenau. por outros homens.
dizem serem iguais, se quererem bem e se protegerem do mau.
dizem que foi ato normal, abordagem convencional.
MAS, dizem que ele nem era tão inocente assim:
que o tímpano perfurado...é coisa de festival de teatro.

não vamos afastar ninguém, só agimos em pról do bem.
chego em casa e falo pro meu filhinho de ante-mão:
papai até pediu com educação: falei mais de uma vez,
"vaza negão!"

mas aqui é terra de quem tem escopeta e dá coronhada na cabeça
não é nada de racismo não, foi NO MÁXIMO uma agressão..
deixa só a imprensa dá o fora, cor-por-ação
daqui a pouco tudo volta ao normal: chutamos a cara de mais um.
mas vê se escolhem direito,
vamos agora para os travestis ao invéz dos pretos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

churumelas tardias, não me venham.

tudo curto, sem muito apego, por causa do tempo seco.

mas dizem que é fundo e é sincero. nessa vida que eu quero.

sem remédio. só chazinho e carinho me acalma a tosse e alivia o peito.

própolis, mel e água fresca, nova. vem que nem benção de vó veia.

põe compreça com álcool na testa, pra dispersar o copor febril, ardente.

faça sauna no banheiro e respire fundo.

alívio imediato do peito cheio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

madrugada. nada clichê.

Desonhecidos - mas somente antes do encontro. Que acontecera no bar. Então, unidos pela mesma cerveja, pelo mesmo desalento, deixaram que o desconhecimento se transmutasse naquela amizade um pouco febril dos que nunca se viram antes. Entre protestos de estima e goles de cerveja depositavam lentos na mesa os problemas íntimos. Enquanto um ouvia, os olhos molhados não se sabia se de álcool ou pranto contido, o outro pensava que nunca tinha encontrado alguém que o compreendesse tão completamente. Era talvez porque não trocavam estímulos, apenas ouviam com ar penalizado, na sabedoria extrema dos que têm consciência de não poder dar nada. Uma mão estendida áspera por entre os copos era o consolo único que se poderiam oferecer.

Com a lucidez dos embriagados, haviam-se reconhecido desde o primeiro momento. Ou talvez estivessem realmente destinados um ao outro, e mesmo sem o álcool, numa rua repleta saberiam encontrar-se. O fulgor nos olhos e a incerteza intensificada nos passos fora a pergunta de um e a resposta de outro.

O primeiro estava ali sentado há duas horas, mas lá fazia parte do ambiente. Um pouco porque seu emo era de cor igual às paredes do fundo, mas principalmente porque ele era todo bar. Na forma, no conteúdo. Mais exatamente, aquele bar em especial, que tinha uma coruja no nome e nos desenhos da parede. Ave que ele imitava involuntário, nos ombros contraídos, no olhar verrumante. Olhar que lançou sobre o outro no momento da entrada. Este vinha ainda incerto, como se buscasse. E sua imprecisão atingiu o paroxismo quando no choque de olhares.Vacilou sobre as pernas, a roupa parecendo mais amarrotada, subitamente um braço se descontrolou atingindo a mesa mais próxima, varrendo-a quase com doçura. A doçura dos que de repente encontraram sem estar de sobreaviso. 

(...)

E os dois, satisfeitos com a inesperada oportunidade para a comunicação, foram objetivos ao assunto. Estavam sós.

(...)

Fora depararam com o frio e o brilho desmaiado das luzes de mercúrio. Encolheram-se devagar, as desgraças mútuas morrendo em calafrios. O domingo vinha vindo. Eles não sabiam o que fazer das mãos cheias de amizade e lembranças das mulheres ausentes. Bêbados como estavam, a única solução seria abraçarem-se e cantarem. Foi o que fizeram. Não satisfeitos com o gesto e as palavras, desabotoaram as braguilhas e mijaram em comum numa festa de espuma. Como no poema de Vinícius que não tinham lido nem teriam jamais. Depois calaram e olharam para longe, para além dos sexos nas mãos. Nas bandas do rio,  amanhecia.

caio fernando de abreu.



sábado, 9 de julho de 2011

artificifique-se



teatro da vida
música da dúvida
arquitetura da distorção
dança do acasalamento
leitura do desabafo
cinestesia do grito
plástica do renascimento

oprere seus problemas.